Friday, July 2, 2010

Angra dos Ardores



Canto aos teus olhos de águas cristalinas
Canções marinheiras sobre nautas destemidos
Que se aventuraram em mares desconhecidos
E lutaram contra o medo, piratas e neblinas.

Murmuro aos teus lábios de sal e maresia,
Sinfonias ondulantes de amor e sedução,
Que fazem tremer as entranhas de um vulcão
E geram paixões, maremotos e ventania.

Desembarco, audaz, na angra dos ardores,
De estandarte em punho, coração eufórico,
Conquistador de sacros, excelsos amores.

Sou recebido com cálice de ambrósia,
Aspergido com perfume raro, exótico,
E os lábios atracam-se à tua poma rósea.

(Luis Santos 3/7/10)

Tuesday, June 29, 2010

Espera Interminável



Roubei os olhos da noite
Para espiar o teu sono
Saturado de cândidos prazeres...
Trespassar em teus sonhos
De voluptuosa inocência.

Sobre o teu peito derramei luar
E salpiquei de estrelas os lábios
De uma rosa vermelha
E esperei...
Pelo raiar da madrugada.

Em vão!
Foram-se as horas....os dias
E os anos....
E ela....madrugada adormecida
Deixou-te suspensa no sonho
E nas nuvens da memória!

(Luís Santos 29/6/10)

Saturday, June 26, 2010

Terra Agonizante





A terra, árida, gemia, rogava água
E o sol, insensível e torturador,
Queimava, queimava como uma frágua
Os lábios ressequidos do seu amor.

Secavam os rios, os lagos e as fontes
E as árvores, exaustas, caíam no chão.
As flores campestres ardiam nos montes
E o trigo, da cor funéria do carvão.

O dia, rubro, ardia em agonia
E a noite esperava que o dia
Desmaiasse, para salvar a terra.

Descia o sol abrasador no poente,
A lua cheia soluçava docemente...
Chorando sobre a calcinada serra.

(Luís Santos 27/6/10)

Wednesday, June 23, 2010

O Camponês e a Flor


Quando ela passou, sublime, com ar de rosa,
O camponês, pasmado, de enxada ao ombro,
Sentiu no peito um aperto; mudo de assombro
Ao ver mulher tão inocente e tão formosa.

Limpou o suor à manga do seu casaco preto
E depois, do seu bolso fundo e poeirento,
Tirou um papel amarrotado e cinzento
Onde tinha escrito um singelo soneto.

Quando ouviu o primeiro verso ser declamado
Ela parou, fitou aquele aldeão inspirado
E sorriu, seduzida, enraizada no chão.

Ela transformou-se numa flor encarnada,
Olorosa, macia, por ele encantada,
Que a plantou no âmago do seu coração.

(Luís Santos 14/06/10)

Thursday, June 17, 2010

Mulher Ideal





Do teu alvo corpo a linha e a forma,
Que abalam os alicerces do meu ser,
Formam a ideal imagem da mulher
Que na retina em deusa se transforma.

Ébrio dos eflúvios do amor, teu aroma,
Julgado por tribunal do prazer,
Sou condenado a amar-te, enlouquecer,
Boca costurada à tua nívea poma.

Quando sou detido na ígnea prisão
Meus olhos choram de tanta emoção,
Culpado por roubar teu gostoso mel.

Assim cumpro este pesado castigo,
Mão delinqüente sobre teu umbigo,
Acato a punição da vida cruel.

(Luís S 17/6/10)

Tuesday, June 15, 2010

Olhos de Água





Quando submergi no azul do mar,
Em busca de tesouros naufragados,
Uma sereia de cabelos dourados
Mergulhou na pupila do meu olhar.

Seus braços compridos, aveludados,
Sargaços no mar de sonho a flutuar,
Tentaram o meu corpo aprisionar
Mas foram em meus braços enleados.

Beijei seus lábios de coral vermelho
E olhei-a nos olhos de água; o espelho
Da beleza do seu mundo marinho.

Enlacei-me no seu corpo oceânico
E amei com paixão; qual tritão romântico
Que girou, enlevado, num redemoinho.

(Luís Santos 15/6/10)

Saturday, June 5, 2010

A Pena Enregelada


A pena, enregelada pelo frio
Recusa escrever o que meu coração ordena
Derrapa no gelo do papel
Congela a sua tinta
Protesta, grita revoltada, cai no chão
E por fim cala-se, extenuada!

Esfrego seu corpo entre os dedos
Viro-a de lado, de frente, de pernas para o ar
Faço malabarismos, lanço-a qual dardo
Mordo, bato-lhe, faço-a piruetar
Agito-a sem parar, num frenesim
Mas a pena ignora-me, imperturbada!

Praguejo-lhe aos ouvidos, mil insultos
E apenas vejo-a sorrir, ligeiramente corada
Um tanto ou quanto excitada
Mas nem um único pingo de tinta
Ou promessa de palavras
Escorre da sua ponta rebelde, bloqueada!

Desisto, frustrado, de coração calado
Vou cuidar das rosas do meu jardim
Elas, tão belas, que declamam poesia
Para o seu jardineiro fiel e dedicado
E entre as rosas adormeço...
Sonhando com ela, a pena minha amada!

(Luís Santos 15/05/10)